Veja como os laboratórios de inovação vêm revolucionando o ensino
Você já ouviu falar em laboratórios de inovação? Essa é uma grande tendência mundial para o desenvolvimento da criatividade e da tecnologia em diversos ambientes. Faculdades, órgãos do governo, empresas: entidades de todos os segmentos, tanto da iniciativa pública como privada, podem se beneficiar desses espaços.
Seus principais traços são a inovação e a colaboração. Equipes multidisciplinares se reúnem, trocam ideias, compartilham conhecimento e utilizam equipamentos de última geração para desenvolver projetos.
Neste post, você vai entender o conceito dos laboratórios de inovação, como eles surgiram, qual é sua relação com o importante movimento mundial da cultura maker e, ainda, como esses espaços estão revolucionando a educação. Confira!
O que são laboratórios de inovação?
O laboratório de inovação é, essencialmente, um espaço de colaboração e criação. Nele, ideias são trocadas, conhecimentos são compartilhados e projetos inovadores são desenvolvidos. Para tanto, o ambiente deve contar com a estrutura necessária para incentivar a criatividade.
Normalmente, os laboratórios têm equipamentos tecnológicos de última geração, além de uma organização dinâmica que inspire seus participantes. Os projetos desenvolvidos podem ter como objetivos a otimização de processos criativos ou a geração de ideias disruptivas.
Esses laboratórios podem existir em vários locais, como empresas, escolas, universidades ou até órgãos públicos. Aqui no Brasil, por exemplo, o Ministério da Saúde tem um laboratório de inovação em parceria com o Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES/SGTES/MS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS).
Em 2017, o primeiro edital foi aberto para seleção de experiências no espaço, tendo como foco o desenvolvimento de soluções para os processos de trabalho e a qualificação dos profissionais do sistema público de saúde.
Outro exemplo brasileiro é o do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) que, em novembro de 2018, também abriu um laboratório de inovação em Brasília para incentivar a criatividade e o desenvolvimento de projetos inovadores na área da educação.
Como funciona um laboratório de inovação?
Quando falamos de laboratórios de inovação, não estamos só nos referindo a espaços com muita inteligência artificial ou robótica avançada. Esses dois elementos podem estar presentes, é claro, mas o lugar de inovação serve para otimizar todo tipo de projeto ou processo e trazer impactos à sociedade.
Podemos dizer que os laboratórios de inovação funcionam como uma versão híbrida de um grupo de pensadores, centros de pesquisa, oficinas eletromecânicas e empreendimentos sociais.
Tanto nos laboratórios de iniciativa pública como privada, esta é uma das grandes características: a equipe heterogênea em termos de área de atuação e até mesmo de escala de hierarquia. Não é incomum que projetos sejam desenvolvidos entre estudantes de doutorado em parceria com alunos do ensino fundamental, por exemplo.
Além disso, o laboratório de inovação deve ter um ambiente propício ao desenvolvimento da criatividade: espaçoso, com equipamentos estrategicamente dispostos, mobiliário móvel etc. Enfim, é um lugar que precisa criar a sensação de dinamismo.
Ainda, como os projetos são construídos coletivamente, é interessante que o laboratório de inovação tenha paredes abertas, de modo a estimular a interação entre as pessoas e o compartilhamento de ideias.
No mais, não há regras: cada local pode funcionar de um jeito, desde que o objetivo de gerar projetos inovadores seja alcançado. Por exemplo, ele pode ser totalmente livre para que cada participante crie o que quiser ou ter projetos oficiais sendo desenvolvidos.
O que é a Cultura Maker?
Antes de continuar a falar sobre os laboratórios de inovação, precisamos entrar em um importante conceito: o da Cultura Maker. O movimento maker é uma tendência mundial e definitiva, que consiste em uma extensão da filosofia “Do It Yourself” (Faça você mesmo).
Ele se apropriou de conhecimentos de programação e robótica, mas também aproveita ferramentas clássicas, como placas Arduíno e cortadores a laser. O mais importante é experimentar ou fazer projetos, produtos ou soluções com as próprias mãos.
Não é tão difícil entender a magnitude da Cultura Maker hoje em dia. Na internet, existem inúmeros “fazedores” conectados por meio da divulgação de vídeos tutoriais e manuais de experiência. Isso também ajuda o movimento a se popularizar.
Na educação, a Cultura Maker tem ajudado as escolas a adotarem experiências práticas como uma das prioridades. Assim, aulas expositivas e exclusivamente teóricas estão sendo trocadas por experiências em laboratórios, o que possibilita uma aprendizagem interdisciplinar e proporciona o engajamento dos estudantes.
Como surgiu a Cultura Maker?
A ideia de usar a criatividade para criar instrumentos e soluções a partir do que existe à disposição não é nova. Na verdade, ela vem da cultura dos anos 1960, que incentivava a quebra de regras e a recriação a partir de materiais próprios, como a música punk.
Porém, o termo “Cultura Maker” foi definido pelo americano Dale Dougherty, em 2005. Ele, que é considerado o grande responsável pela popularização dessas ideias e fundador da primeira revista dedicada ao tema, a Make, disse ao jornal Estadão que o movimento maker é como um tipo de Renascença.
Ainda, Dougherty define a Cultura Maker como o hábito de criar com as próprias mãos, praticado por fãs de tecnologia, cientistas, estudantes e curiosos. Em 2006, com a realização da primeira Maker Faire, organizada pela revista do entusiasta, a feira passou a ser ponto de encontro de adeptos ao movimento maker.
No entanto, as trocas entre os “fazedores” já ultrapassam os limites do ambiente virtual ou das dependências de um evento. Hoje em dia, existem diversos espaços que estimulam o movimento, como os makerspaces e os FabLabs.
Os makerspaces
Os makerspaces são espaços de criação tecnológica com estrutura completa em suas instalações, como máquinas de produção, impressoras 3D e ferramentas diversas. No entanto, esses locais se inserem dentro de empresas, faculdades ou organizações.
Isto é, trata-se de um anexo físico voltado para o desenvolvimento de ideias e produtos que, geralmente, vai ao encontro de interesses mais específicos, como aumentar as vendas da empresa onde o makerspace está instalado.
Os FabLabs
Já os FabLabs são um modelo de laboratório criado para ser um ambiente completo de criação inovadora e troca de conhecimentos. Eles fazem parte da Fab Foundation e foram criados
em 2001, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos EUA.
Na prática, eles são laboratórios de planta própria e totalmente equipados para a sua função. Ainda, os FabLabs costumam ser abertos ao público, para que assim qualquer pessoa interessada possa participar. No entanto, como os equipamentos utilizados costumam ser modernos, como cortadores a laser, normalmente os participantes já trabalham com tecnologia ou têm conhecimentos sobre o assunto.
Atualmente, existem mais de 450 FabLabs espalhados ao redor do mundo, todos com acesso gratuito para a comunidade em que se inserem, além de convênios e parcerias com escolas, faculdades e empresas voltadas para a pesquisa.
Como o laboratório de inovação está revolucionando a educação?
Como deu para perceber, os laboratórios de inovação são grandes centros de difusão da Cultura Maker. Nesses espaços, a educação vai ao encontro das demandas do futuro e deixa de lado um tipo de aprendizagem totalmente passiva, que já está se tornando obsoleta.
A Cultura Maker faz da escola e até mesmo da faculdade amplos ambientes de experimentação e prática do conhecimento. Isso eleva a formação acadêmica do estudante, deixando-o mais preparado para atuar, de fato, no mercado de trabalho e como agente transformador da sociedade.
Essas são características inerentes dos métodos de aprendizagem ativa, que priorizam, sobretudo, o protagonismo do estudante em seu próprio processo de formação.
Desse modo, ele não apenas consegue assimilar melhor os conteúdos como desenvolver competências importantes para a vida pós-faculdade, como a autonomia, a capacidade de trabalhar em equipe e a resolução de problemas.
Por exemplo, com elementos de robótica e eletrônica, aliados a técnicas tradicionais, como o artesanato e a marcenaria, estudantes de graduação podem criar protótipos que ajudem no cotidiano da sua faculdade em São Paulo. Isso em um ambiente inclusivo e aberto, onde todos podem aprender e ensinar.
Sem contar que os laboratórios de inovação têm outros tipos de atividade além da criação. Neles, podem ser oferecidos cursos de design, robótica ou empreendedorismo, apresentações de especialistas etc. Ou seja, é um verdadeiro local de aprendizagem disruptiva.
Os laboratórios de inovação representam uma mudança na formação das futuras gerações. Mais do que uma trajetória acadêmica que visa a aprovação em vestibulares ou em provas semestrais, por exemplo, a cultura de inovação nos ambientes de ensino traduz um novo jeito de se pensar a aprendizagem.
O protagonismo do estudante, a capacidade de relacionar conceitos teóricos com a prática e a habilidade para encontrar soluções inovadoras que ajudem a amenizar necessidades reais da sociedade são alguns dos pilares do laboratório de inovação.
Quais são as vantagens para instituições de ensino?
Abaixo, confira algumas das principais vantagens dos laboratórios de inovação e do movimento maker para as instituições de ensino.
Engajamento dos estudantes
A sala de aula não é mais um espaço de simples transmissão de conhecimento. Se, antes, o professor era tido como um mestre que detinha todas as informações, hoje em dia, não é mais assim. Afinal, com a Era Digital, bastam alguns cliques no navegador para que as respostas para muitas perguntas sejam encontradas.
Desse modo, o professor precisa de uma abordagem diferente: em vez de proporcionar um conhecimento que o aluno poderia alcançar sozinho, os educadores precisam pensar em experiências que agreguem valor a esse saber adquirido.
Por meio da Cultura Maker e dos laboratórios de inovação, as instituições de ensino conseguem gerar o engajamento dos estudantes que estão a todo momento imersos em estímulos digitais, proporcionando habilidades como a capacidade de pensar criticamente e de transformar o conhecimento em prática, essenciais para o profissional do futuro.
Protagonismo intelectual
Você já ouviu falar na Pirâmide de Aprendizagem? Desenvolvida pelo psiquiatra norte-americano William Glasser, ela traz uma sistematização sobre o nosso rendimento em cada uma das possibilidades de aprendizagem. De acordo com Glasser, nós aprendemos:
- 10% quando lemos;
- 20% quando escrevemos;
- 30% quando ouvimos;
- 50% quando observamos e ouvimos;
- 70% quando discutimos o assunto com outras pessoas;
- 80% quando praticamos;
- 95% quando ensinamos aos outros.
Diante disso, você vê que aprendemos com muito mais eficiência ao colocarmos conhecimentos em prática ou discuti-los com outros do que quando lemos ou vemos — ou seja, quando há o protagonismo do aluno.
Desse modo, a experiência da educação nos laboratórios de inovação acaba proporcionando um aprendizado mais profundo do que em aulas expositivas, por exemplo.
Desenvolvimento de habilidades socioemocionais
De acordo com a pesquisa Global Talent Trends 2020, do LinkedIn, 92% dos recrutadores de grandes empresas acreditam que as habilidades socioemocionais importam até mais do que os conhecimentos técnicos dos candidatos. Os participantes da pesquisa relataram que, entre as características pessoais mais desejadas atualmente, estão a criatividade, a colaboração e a boa gestão de tempo.
Todas essas habilidades fazem parte de uma formação humana. Isso quer dizer que a escola ou a faculdade não são capazes de proporcionar esse desenvolvimento socioemocional quando se atêm aos aprendizados formais e engessados.
Nas atividades makers e, principalmente, dentro dos laboratórios de inovação, esse tipo de potencialidade é muito valorizada por meio do trabalho em grupo e do compartilhamento de ideias. Desse modo, o desenvolvimento de carreira dos participantes desses espaços dá um grande salto.
Por meio do trabalho em equipes para a criação de novos projetos, os estudantes ou profissionais precisam dividir opiniões para chegar até a melhor solução para determinada demanda, seja um robô, seja um objeto impresso em 3D etc.
Considerando que normalmente essas equipes são multidisciplinares, as opiniões trarão diferentes perspectivas à discussão. Então, também é nessa dinâmica que os participantes evoluem a capacidade de ter empatia, a tolerar diferentes pontos de vista e a despertar o senso crítico.
Difusão de conhecimento
As equipes diversificadas possibilitam que uns ensinem aos outros um pouco do que sabem, formando assim uma ampla rede de conhecimento compartilhado. E olha só: de acordo com a Pirâmide de Aprendizagem, colocar a teoria em prática representa um aprendizado de 80% do conteúdo.
No entanto, há uma forma de aprender ainda mais efetiva: ensinar. Explicar o que sabemos para outras pessoas de forma didática garante a assimilação de cerca de 95% das informações.
Levando em conta a grande possibilidade de troca de conhecimentos que existe nos laboratórios de inovação, esse espaço representa o melhor dos mundos para a aprendizagem, uni
ndo a prática ao ato de ensinar.
Desenvolvimento da criatividade
A criatividade existe porque acumulamos conhecimentos, emoções e influências ao longo da vida. Como já diz o velho ditado, “para quem só conhece martelo, todo parafuso é prego”. A habilidade de ser criativo não surge do nada, mas se manifesta a partir da capacidade de usar experiências anteriores para pensar em novas soluções.
Para tanto, é necessário que o nosso cérebro avalie a apropriação dessas experiências em diferentes situações, remodelando ideias e correlacionando inspirações com conhecimentos. Desse modo, podemos dizer que a falta de criatividade é a ausência de estímulos.
É claro, existem pessoas mais criativas do que as outras. Mas não porque nasceram com algum dom, e sim porque tiveram experiências ou referências que ajudaram a desenvolver essa capacidade inventiva.
Agora, tendo em vista que a criatividade é uma das mais importantes qualidades para as profissões do futuro, como você viu no relatório do LinkedIn, estimulá-la é fundamental. Nos laboratórios de inovação, isso acontece a pleno vapor.
Afinal, quando a Cultura Maker entra em jogo, os praticantes são desafiados a pensar fora da caixa e solucionar problemas de formas novas. Para isso, usam não apenas a grande variedade de instrumentos e equipamentos à sua disposição, como o compartilhamento de ideias com seus colegas de projeto.
Estímulo ao conhecimento científico
As atividades do movimento maker também são um grande estímulo ao saber científico. Afinal, o fundamento do empirismo, uma das teorias do conhecimento mais recorrentes nas ciências, é que só conhecemos o mundo de verdade por meio da experiência.
Para os empiristas, não é possível construir um conhecimento confiável apenas com induções. Para quaisquer conclusões científicas, é necessário realizar experimentos. Nos laboratórios de inovação, os participantes não apenas colocam isso em prática, como vivenciam outros princípios científicos, como:
- definir problemas por meio de questionamentos;
- usar modelos de planejamento;
- realizar análises e investigações;
- coletar e interpretar dados;
- usar o pensamento computacional para chegar em soluções;
- argumentar sobre as conclusões alcançadas etc.
Ainda, os laboratórios de inovação são conhecidos por serem ambientes abertos ao público, o que torna o conhecimento ainda mais acessível.
O que é o LITE da ESEG?
O Laboratório de Inovação Tecnológica (LITE) é um laboratório inaugurado em 2017 e que, desde então, não para de crescer. O LITE é um espaço para pesquisa, experimentos e desenvolvimento de produtos educacionais e tecnológicos, desde o desenho inicial de protótipos até a criação final.
O principal objetivo do LITE é integrar a educação à Cultura Maker, com foco no pensamento computacional, essencial na Indústria 4.0 e na Era Digital. A estrutura é completa: impressoras 3D, máquinas de corte a laser, computadores para modelagem de peças, sala de ferramentaria, solda e muitos outros equipamentos modernos.
No local, os estudantes de graduação, mestrado e doutorado podem exercitar seu potencial criativo e aprimorar o conhecimento científico. Além disso, o laboratório também tem atividades de extensão abertas para a sociedade. Enfim, é um verdadeiro vale da criatividade.
Como as ideias são colocadas em prática?
Para além das barreiras físicas do laboratório, a cultura de inovação e experimentação desenvolvida nos projetos do LITE já atingiu milhares de pessoas, seja por meio de eventos organizados pelos pesquisadores e artigos publicados para a comunidade acadêmica, seja pelos produtos voltados para a sociedade em geral.
Enfim, com essa leitura, esperamos que você tenha entendido o que são os laboratórios de inovação e como eles trazem impactos para a educação, assim como para diversos outros setores da sociedade. Como você viu, essa é uma tendência que vai ao encontro de um novo jeito de pensar a aprendizagem: por meio de metodologias ativas e protagonismo de estudantes.
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